Luto e dor “pairam no ar”
- betaniajavenissi
- 7 de abr. de 2021
- 2 min de leitura

Luto e dor “pairam no ar”. Não é preciso dizer que, sem dúvidas, estamos vivendo dias difíceis. O pânico ameaça dominar autocontrole das emoções. Aos poucos renasce o instinto de “sobrevivência darwiniano”, com variações sociais: os “mais espertos” e mais “articulados” têm mais chance e os mais frágeis e pobres ficam com os riscos normais. Fico matutando que renascem antigas imagens de Deus nas comunidades cristãs enfraquecidas pelo isolamento e ameaçadas pelo desespero. Recordando momentos tristes da história: na segunda metade do sec. XIV explodiu a Peste Negra (peste bubônica), dizimando um terço da população europeia. Como toda sociedade era dirigida pela fé e religião cristã, acreditava-se que Deus estava ofendido e pregava-se a ira divina. Para aplacar tal fúria buscaram-se os bodes expiatórios: judeus foram perseguidos e bruxas queimadas. Dizia-se que tudo estava acontecendo porque a gravidade de nossos pecados “irritou” Deus. Na Segunda Guerra Mundial, Dietrich Bonhoeffer, mártir cristão, afirmava que, diante da dor e morte dos inocentes, é preciso falar de Deus a partir de uma linguagem que gere esperança e não de uma linguagem de “culpa e castigo” que não torna Deus próximo e o culpabiliza. Denunciava profeticamente o comportamento de buscar a Deus só quando tudo vai mal, transformando-O em “um tapa-buraco”. A pandemia do coronavírus fez explodir reações religiosas e psicológicas que deturpam o essencial. Dizia-se que a grande doença do sec. XXI seria “a depressão, entendida como ‘a exaustação do próprio eu’, o inimigo a enfrentar seria o ‘eu’ exaurido pela corrida frenética em busca do sucesso e bem-estar pessoal” – Ademir Azevedo. Diante da pandemia estamos testemunhando, infelizmente, o comportamento de medo em relação ao próximo. Alguns dizem que o outro é o inimigo a evitar. Do ponto de vista religioso, a situação é delicada. Grupos e comunidades intensificam orações, adorações e multiplicam “redes de intercessão”. Buscam, mesmo que virtualmente, estar juntos e apoiarem-se mutuamente aprendendo acerca da solidariedade e da compaixão com o próximo. Mas é preciso cuidar para não culpabilizar Deus com comentários do tipo: “por que Ele está permitindo isso”? E assim retornar aos tempos da peste bubônica e as orações destinadas a aplacar a ira d’Ele. Devemos rezar a partir da ótica de Deus como Pai, com Jesus revelou em seu Evangelho, e não a partir de uma tradição medieval. Às vezes, a nossa forma de rezar pretende obrigar a Deus a dar-nos respostas e sinais. Tomados pelo desespero do coronavírus podemos cair na tentação de ir contra a divindade do Pai exigindo uma demonstração de seu poder. No deserto Jesus também foi tentado a isso quando o demônio lhe pediu para transformar as pedras em pães. O próprio Jesus nos ensina que a relação com o Pai se faz a partir da fé e obediência absoluta. Mesmo que aparentemente o Pai abandone o Filho, este por sua vez não abandona jamais o Pai. Eis aqui a verdadeira fé! A fé cristã em tempos de coronavírus não exige de Deus nada, mas busca a fidelidade incondicional a Ele, sobretudo neste momento sombrio de nossa história. “Quem se lança nas águas profundas da perseverança aprende que, quanto mais escura for a noite, mais clara será a madrugada” – D. Helder Câmara. Que assim seja!
Tácito Coutinho – Tatá – Moderador do Conselho da Comunidade Javé Nissi
Comentários